Uma saga, um reflexo de um modo de vida. Um país com leis que deveriam proteger, mas frequentemente aplicadas ao contrário. Este é o Brasil em que vivemos hoje. Ironicamente um filme com o nome " A lei é para todos" me fez escrever esse texto.
Inicio este texto admitindo: há tempos não assisto a filmes nacionais. Por quê? Pelo mesmo motivo que me fez abandonar as novelas há mais de 15 anos. São sempre as mesmas histórias recicladas, recheadas de traições, vulgaridade, trapaças e excessos sexuais. Pouco ou nada resta de narrativas que desafiem a mente ou provoquem reflexões profundas na teledramaturgia brasileira.
Recentemente, porém, algo me fez reconsiderar. Um filme na Netflix sobre a operação Lava Jato chamou minha atenção. Com um balde de pipoca nas mãos, dei play. Mas, para minha surpresa, o que começou como um filme transformou-se, aos meus olhos, em um documentário vivo e palpável. As cenas encenadas foram confirmadas, quase quadro a quadro, pelos vídeos reais dos interrogatórios que marcaram o processo histórico.
E então veio a pergunta inevitável: o que levou os ministros a distorcerem as leis de forma tão escancarada para libertar um criminoso condenado? Não apenas um ladrão, mas o líder de um esquema que saqueou uma nação. Ele, que ao sair da prisão, não escondeu o desejo de vingança contra aqueles que buscaram a justiça e trouxeram seus crimes à luz.
A quem ainda não assistiu, recomendo fortemente que veja o filme e encare a realidade nua e crua. Será impossível desviar os olhos da verdade.
A ética — um conceito que muitos parecem tratar como um artigo de luxo — torna-se um espectro dolorosamente ausente após assistir a essa obra. A palavra “ética” talvez se torne para alguns uma curiosidade perdida no dicionário. Para outros, quem sabe, desperte o impulso de se tornar um defensor da justiça. Esse documentário pode abrir os olhos de quem, assim como eu, ainda acredita que alertar os outros é um dever moral.
No final das contas, é essa a nossa realidade. Vivemos em uma terra fértil e rica, mas habitada por uma triste carência de caráter. Que possamos, ao menos, continuar enxergando a verdade — e, com sorte, encontrar coragem para transformá-la.
Abaixo um resumo do que aconteceu, e o desfecho todos já sabem. Um ex-presidiário volta a cena do crime e vem cumprindo o que prometeu. Descondenado, sim. Inocente. Jamais!
A Operação Lava Jato, iniciada em 17 de março de 2014, revelou um vasto esquema de corrupção no Brasil, resultando em números expressivos ao longo de sua atuação.
Principais dados da Operação Lava Jato:
Fases da operação: Foram deflagradas 79 fases ao longo de quase sete anos de investigação.
Condenações: Até março de 2019, a operação contabilizava 285 condenações, totalizando mais de 3.000 anos de penas.
Delações premiadas: Foram firmados 399 acordos de delação premiada e 43 acordos de leniência com empresas.
Recuperação de recursos: A operação conseguiu recuperar R$ 4,3 bilhões desviados dos cofres públicos, devolvidos à Petrobras, além de R$ 111 milhões recuperados a partir de acordos de delação.
Denunciados: Foram denunciadas 553 pessoas ao longo das diversas fases da operação.
Prisão de políticos: Entre os presos, destacam-se dois ex-presidentes da República, além de diversos parlamentares e governadores.
Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou diversas acusações judiciais, principalmente relacionadas à Operação Lava Jato. Abaixo, destacam-se os principais casos:
1. Caso do Tríplex no Guarujá:
Acusação: Lula foi acusado de receber um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, como propina da construtora OAS em troca de favorecimentos em contratos com a Petrobras.
Desfecho: Em julho de 2017, foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Posteriormente, a pena foi aumentada para 12 anos e um mês. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações, alegando incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o caso. Wikipedia
2. Sítio de Atibaia:
Acusação: Lula teria recebido reformas no sítio de Atibaia, interior de São Paulo, como vantagem indevida das construtoras Odebrecht e OAS, em troca de benefícios em contratos públicos.
Desfecho: Condenado em fevereiro de 2019 a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em 2021, o STF também anulou essa condenação pelos mesmos motivos do caso tríplex.
3. Instituto Lula:
Acusação: Recebimento de doações ilícitas de empreiteiras para o Instituto Lula, que seriam, na verdade, pagamentos de propina disfarçados.
Desfecho: As ações relacionadas a essas acusações foram anuladas pelo STF em 2021.
4. Obstrução de Justiça:
Acusação: Tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, para impedir delação premiada.
Desfecho: Em 2019, a Justiça Federal absolveu Lula por falta de provas.
5. "Quadrilhão do PT":
Acusação: Formação de organização criminosa para desviar recursos públicos.
Desfecho: Em 2019, a Justiça absolveu Lula e outros membros do PT por falta de provas. Reuters
É importante notar que, embora o STF tenha anulado as condenações de Lula, isso não implica necessariamente em sua inocência, mas sim em questões processuais, como a incompetência do juízo que o condenou. Atualmente, Lula não possui condenações criminais ativas e está apto a exercer direitos políticos.
Desdobramentos recentes nos processos contra Lula
Reuters
Vídeo omite que Justiça absolveu acusados ou rejeitou denúncias no "quadrilhão do PT"
há 147 dias
Reuters
Lula cobrou R$ 815 mil da OAS por apartamento pago pela ex-esposa, não por tríplex
há 98 dias
Comentários